sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Episódio 41

O tempo passava e o casal estava cada vez mais unido. O amor puro que existia entre os dois era tão simples, mas, ao mesmo tempo, era inexplicável. Os dois nunca brigavam. Até discutiam, mas sempre conversavam muito, o que fazia com que eles se aproximassem cada vez mais. Seus pensamentos e vontades eram muito parecidos. Quando discordavam em algo, um acabava contribuindo mais com a idéia do outro. Era disso que os dois mais gostavam. Sempre tinham novidades interessantes para contar um para o outro. Aprendiam muito juntos. Jaciara percebia que Varre Tudo era o cara ao lado de quem ela queria envelhecer. Ele a respeitava muito. Ela retribuía.

Jaciara e Varre Tudo se tornaram tão próximos que pareciam irmãos. Eles achavam a maior graça quando entravam em alguma loja e o balconista dizia algo como: “Sua irmã também quer ver alguma coisa?”.

Varre Tudo havia feito a escolha certa ao ficar na COVAT. Ele até foi promovido. Passou a ser coordenador da varrição. Muito feliz, com um salário melhor e podendo continuar convivendo diariamente com seus amigos, ele decidiu que iria realizar seu sonho e se inscreveu para o vestibular da universidade da cidade.

Varre Tudo e Jaciara haviam passado um final de semana muito romântico, visitando a cidade de Novo Paraíso, no interior do estado. Ao chegar em sua casa, confiante no amor que sentia por Jaciara e com quase um ano de namoro, Varre Tudo estava certo de que passaria toda sua vida ao lado de Jaciara. Ele ligou para a amada.

- Alô!

- Jaci! Tu vai tá muito ocupada amanhã?

- Varre! O que tu quer? Tu acabou de me deixar em casa!

- Eu sei... É que eu preciso te contar uma coisa! - disse ele.

- Conta, ué.

- Não... não é assunto pra falar por telefone. Mas é coisa boa, tá!? Amanhã passo na reciclagem, pode ser? - pedia ele muito ansioso.

- Pode sim.

- Tá, então! Beijo!

- Beijão!

Quando Jaciara chegou na reciclagem, ao invés de ir direto separar o lixo, ela foi verificar a quantidade que havia chegado. Ela viu um violão, bastante quebrado. Ele não teria mais utilidade, como grande parte do lixo que ali chegava. Mas ela ficou observando. Pensou em quantos bares aquele instrumento teria soado acordes tristes emocionando pessoas, e ainda, em quantos shows o violão teria soado notas de alegria divertindo o público.

Enquanto seu pensamento vagava, Varre Tudo Chegou com uma caixinha cheia de mudas de flores.

- Oi amor! Que é isso!? - perguntou Jaciara vendo o que o namorado trazia.

- Eu sei que é normal presentear a namorada com um ramalhete, mas eu fui comprar flores e não conseguia escolher nenhuma. Quando eu achava uma bonita, lembrava do teu rosto e aí eu percebia que nenhuma flor é tão bonita quanto a minha namorada.

- Ah... Seu bobo! - disse Jaciara com as bochechas bem vermelhas e um sorriso que deixava Varre estonteado.

- Aí, eu achei que trazer essas mudas de Amor-Perfeito era muito mais bonito. Eu vou dar elas pra ti cuidar. E quando estas flores crescerem, elas vão ficar iguaizinhas ao nosso amor. Perfeito! - explicou Varre.

- Varre! - disse Jaciara num espanto – Eu tive uma idéia! Tá vendo aquele violão!? Eu vou tirar essa parte aqui, ó, – disse ela apontado para o lado onde ficava a boca do instrumento – vou colocar terra dentro e vou plantar as flores aqui! Assim, o violão vai fazer a gente lembrar daquela música linda do Chico que tocava quando começamos a namorar!

- Que bonito, Jaci... bom, eu queria...

- Varre! Tenho outras idéias! Eu posso aproveitar boa parte desse lixo pra fazer alguns enfeites, umas esculturas! Imagina que legal! Vou virar artista plástica. Que tal? - dizia, esquecendo que Varre Tudo estava lá para lhe contar algo.

- É você é uma pessoa muito criat...

- Eu vou começar agora mesmo. Vou juntar o que tiver de mais colorido e vou fazer milhões de formas. Depois eu organizo uma exposição e isso pode se tornar mais uma fonte de renda! - continuava ela.

- Jaci, eu...

- Ah! Tu veio aqui pra me falar alguma coisa, né!? - dizia Jaciara tentando demonstrar interesse, mas sua mente já imaginava o local, data e hora de sua exposição.

- É... bom... eu queria te pedir... hum... pedir – dizia ele num embaraço que Jaciara não entendia – não, não, pedir não. Na verdade eu só queria te contar que saiu o resultado do vestibular e que eu passei!

- Nossa Varre! Parabéns! Mas, então, quem deveria estar te dando flores era eu! Ah! Parabéns, querido! Vamos lá! Vamos ver essa “enciclopédia ambulante” mostrar seu conteúdo! Parabéns, Varre!

Varre Tudo foi embora, sem dizer o que realmente queria ter dito. Achou melhor. Ele pensaria em uma forma melhor de dizer para a namorada tudo o que precisava ser dito. Na hora certa, no momento certo.

Um mês depois Jaciara já tinha 32 esculturas. Ela poderia fazer sua exposição e esse seria o primeiro passo para ela começar a vender seu trabalho. Estava tudo programado.

No sábado, à noite, na sala de exposições do Centro de Cultura Ms. Pedro Dalsoglio, as autoridades municipais estavam todas presentes. Prefeito, secretários, vereadores, dirigentes e funcionários da COVAT, representantes de entidades e professores e alunos das quartas séries das escolas da rede municipal de ensino.

Magali estava presente, ela havia achado alguém que gostava de festas e bailes funk igual a ela. Era Junior, que havia se recuperado. Ao lado de Josias, estava Shirley, com um barrigão de oito meses. As melhorias que aconteceram na COVAT possibilitaram que o sonho da menina se tornasse realidade. Logo que engravidou, ela havia convidado o amigo Josias para ser padrinho. Claro que ele aceitou. Eram grandes amigos. Abelhão chegou em cima da hora, ela tinha passado na casa de Arzelina para buscá-la. Ela estava aposentada. Abelhão chamou a atenção quando entrou, pois usava terno e distribuía panfletos. Depois de liderar a greve junto com Varre Tudo, ele sentiu que poderia melhorar outras coisas naquela cidade e havia se candidatado a vereador pelo Partido Ambiental. Jéferson abraçou a causa. Ele estava fazendo estágio na secretaria da COVAT e cursando o primeiro semestre do curso de direito.

- E aí Junior, agora vai ficar só com uma, é! – intrometeu-se Abelhão.

Junior ficou sem jeito e deu apenas um sorriso amarelo. Para sorte dele, Magali, distraída observando o que as pessoas vestiam, não ouviu.

Varre Tudo faria o protocolo. Ele anunciou a exposição denominada por Jaciara como “Jogando Lixo na Arte” e passou a palavra para a namorada.

- Boa noite a todos. É com muito prazer que eu recebo vocês nesta exposição. Quero agradecer a presença de todos aqui e, gostaria de agradecer especialmente às escolas, já que, nesta data, eu não estou apresentando apenas o meu trabalho. Para que o lixo seletivo seja cada vez mais reaproveitado, nós vamos lançar o Concurso Recicle e Reutilize seu Lixo. Todos os alunos das quartas séries das escolas municipais vão poder participar.

Depois de Jaciara explicar o concurso e apresentar seu projeto, Varre Tudo passou a palavra para o prefeito.

- Saudações, caros amigos! Eu quero dizer, primeiramente, que estou muito orgulhoso desta cidade pelo trabalho que vem sendo feito em relação ao lixo. Estou orgulhoso, inclusive, da greve. Graças à paralisação dos nossos varredores, nossa população criou consciência e está sendo educado ainda em casa, fazendo a separação corretamente. Agora, este projeto de reutilização do lixo, me deixa ainda mais orgulhoso. - discursava o prefeito - Por tudo isso, quero aproveitar este momento para anunciar que na próxima semana o nosso município estará recebendo o 8° Prêmio José Lutzemberger de Preservação Ambiental!

Todos aplaudiram e vibraram com a notícia.

- Então, no próximo sábado, pela manhã, quero que todos estejam lá na prefeitura para receber este prêmio, que é de todos nós. Especialmente você, Jaciara, pois eu quero que você receba o prêmio das mãos da governadora e que este prêmio fique lá na sua reciclagem, em homenagem a este seu projeto maravilhoso! Parabéns e muito obrigado!

Jaciara encheu os olhos de lágrimas. Ao vê-la, Varre Tudo mal conseguiu continuar o protocolo. Mas era justamente agora que ele precisava falar.

- Antes de liberá-los para prestigiar a exposição eu preciso fazer uma quebra de protocolo - dirigiu-se para Jaciara e continuou - Jaci, eu gostaria que você viesse aqui do meu lado.

Jaciara aproximou-se do namorado. O rosto de Varre Tudo estava muito corado, ele suava e mal conseguia segurar o microfone na mão de tanto que tremia. Respirou fundo, olhou nos olhos dela e começou.

- Jaciara, tu é uma pessoa que merece muito esta conquista. - ele pôs a mão no bolso - Eu queria te dizer que eu espero que você continue com estes projetos, sempre pensando em melhorar cada vez mais nossa sociedade. Eu quero sempre poder estar do teu lado prestigiando cada uma destas conquistas e realizando outras junto contigo. Eu te amo simples e verdadeiramente e, por isso, eu quero saber, Jaciara, se tu quer se casar comigo!? - perguntou tirando a mão do bolso e mostrando um anel de brilhante para Jaciara.

Os presentes mal ouviram o sim que Jaciara disse baixinho, quase desmaiando com a emoção gerada pela surpresa. Mas, pelo beijo que os dois se deram, todos entenderam a resposta e aplaudiram o casal que concretizava cada vez mais o seu amor.

FIM!

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Episódio 40

Varre Tudo despertou de repente e, assim que abriu os olhos, um feixe de luz quase o cegou. Eram os primeiros raios de sol, que já adentravam a sala através do vidro da janela, cuja cortina estava aberta. Chico havia parado de cantar já fazia muito tempo, mas o aparelho de som continuava ligado, acusando o término do CD. Varre Tudo pensou em levantar-se do sofá, mas antes preferiu ficar mais alguns minutos observando Jaciara, que ainda estava adormecida sobre seu peito. Ele mal podia acreditar no que havia acontecido. Tentou recordar-se de como havia pegado no sono na noite anterior, porém a última lembrança que vinha à sua mente era o beijo de Jaciara. Ah, o beijo! Aquele momento ficaria para sempre gravado em sua memória. Sentiu-se invadir por um sentimento engraçado, uma mistura de felicidade, embaraço e ansiedade. Sua vontade era abraçar Jaciara o mais forte possível e mantê-la sempre próxima a si. Ao perceber que ela estava acordando, disse, meio sem jeito:

– Bom dia, Jaci!

Jaciara demorou alguns segundos para compreender a situação, onde estava, o que fazia na casa do amigo aquela hora da manhã e o como tudo havia acontecido. Assim que tudo fez sentido, ela respondeu:

– Bom dia, Varre!

– Acho melhor a gente levantar e começar a se arrumar para o trabalho – disse Varre Tudo. – Senão, vamos chegar atrasados.

– Que horas são? – perguntou Jaciara, ainda um pouco deslocada.

– Já deve ser mais de seis horas – respondeu.

Os dois levantaram e começaram a se arrumar. Varre Tudo estava envergonhado com a situação, principalmente pelo fato de ser visto por Jaciara logo após acordar todo amassado depois de uma noite de sono. Ela também não conseguia disfarçar que estava sem jeito por ter passado a noite ali. Mesmo assim, a felicidade de ambos era perceptível. A expectativa de que se encontrassem novamente era grande e, enquanto tomavam café da manhã, Varre Tudo perguntou:

– Jaci, tu tem algum compromisso pra hoje de noite, depois de sair lá da reciclagem?

– Hoje de noite? Não, não tenho. Por quê?

– É que eu tava pensando...o que tu acha se a gente sair pra jantar e, depois, quem sabe, for ao cinema? – perguntou Varre Tudo.

– Acho uma ótima idéia, Varre! – respondeu ela. – Podemos ir, sim. Eu saio da reciclagem às seis da tarde, daí consigo ir pra casa me arrumar e fico pronta às sete horas. Pode ser?

– Claro! Vou passar lá na tua casa às sete horas, então. Fica combinado! – disse Varre Tudo, contente por saber que logo mais, no final do dia, poderia ver Jaciara novamente.

Assim que terminaram o café, deixaram a casa de Varre Tudo para mais um dia de trabalho. Despediram-se com um abraço e com um beijo tímido no rosto. Jaciara caminhou até a parada de ônibus mais próxima e Varre Tudo seguiu a pé em direção ao Parque dos Sabiás.

Ao chegar, Varre Tudo apanhou seus utensílios de trabalho e, cantarolando, foi ao encontro dos colegas Shirley e Josias, que já começavam a varrer em torno do playground. Sentiu-se feliz por, depois de tantos dias tumultuados, estar de volta à rotina normal de trabalho no parque, junto aos amigos. Aproximou-se dos varredores e cumprimentou-os, com um largo sorriso no rosto e grande empolgação:

– Bom dia, pessoal!

– Bom dia, Varre Tudo! – responderam eles.

– Qual o motivo de tamanho bom humor e felicidade logo de manhã cedo? – perguntou Josias.

– Pois é! O que foi que aconteceu pra te deixar tão contente? – perguntou também Shirley.

– Ué?! Tô normal. Não aconteceu nada de mais. Apenas tô feliz porque estamos iniciando um dia de trabalho tranqüilo, depois de tudo o que passamos em função da greve, dos incêndios dos contêineres e tal. Estou satisfeito pelo fato de estarmos em paz, simplesmente! – respondeu Varre Tudo.

– Hum...sei. Tem certeza que nada mais aconteceu? Nadinha de nada? – insistiu Shirley.

– Tá bom, tá bom. Além de estar feliz porque tudo voltou ao normal, também tem outra coisa que aconteceu que me deixou ainda mais feliz. – confessou Varre Tudo, meio enrolado com as próprias palavras. – Mas só vou contar se vocês me prometerem que vão guardar segredo!

– É claro que a gente guarda segredo, né, Varre Tudo! Agora conta logo que coisa foi essa que aconteceu pra te deixar tão alegre! Conta, vai! – insistiu Shirley.

– Bom, ontem de noite a Jaciara apareceu lá em casa. Ela disse que tava com alguns problemas, que precisava conversar. Daí, a gente sentou, começou a conversar, ela revelou que tava pensando em mim fazia algum tempo e, de repente, a gente se beijou! – contou o varredor.

– Não acredito! É sério!? Nossa! Nunca imaginei que tu e a Jaciara fossem ficar juntos! Sempre pensei que tu gostava da Magali. – disse Shirley, surpresa com a revelação.

– Pois é...eu também achava que gostava da Magali, mas eu estava errado. Outra noite acompanhei ela até em casa e percebi que não era apaixonado. Na verdade, eu não a conhecia direito e, depois que a gente conversou, me dei por conta de que não temos muitas coisas em comum. – explicou Varre Tudo.

– Pra tu ver como é a vida. Às vezes a gente se descobre apaixonado por uma pessoa que antes era apenas uma amiga. Acontece! – disse Josias.

– É verdade! Mas eu ainda nem contei pra vocês a melhor parte! – disse Varre Tudo, empolgado. – Eu e a Jaciara vamos nos encontrar de novo hoje de noite. Combinamos de sair juntos, vamos jantar e depois ainda vamos ao cinema!

– Ah, que chique! – disse Shirley. – Já são praticamente namorados, então!

– É...ainda não, mas quem sabe. – disse Varre Tudo encabulado.

– Ah! Varre Tudo tá namorando! Tá namorando! Tá namorando! – cantarolou Josias enquanto dançava com a vassoura de um lado para o outro.

– Pára, Josias. Não enche o saco do Varre Tudo! – disse Shirley.

Ao longo da tarde, Varre Tudo e os colegas trabalharam normalmente. Enquanto varriam as áreas recreativas e as vielas do parque, comentavam entre si como o dia estava calmo e agradável. Até mesmo o trabalho estava mais leve, já que, após o término da greve, os esforços coletivos para tornar a cidade limpa outra vez acabaram por incentivar a população a fazer a sua parte e auxiliar na manutenção da limpeza. Assim, havia se tornado raro a equipe de varrição do parque encontrar lixo atirado no chão ou na grama. Agora, eles limitavam-se a varrer e recolher as folhas secas que sempre compuseram o cenário do parque. O mesmo acontecia nas ruas. Os varredores estavam encontrando muito menos lixo e resíduos espalhados pelo chão, prova de que a população realmente estava se esforçando para cuidar da cidade e mantê-la organizada.

Depois do horário de trabalho, Varre Tudo se despediu de Josias e Shirley, que lhe desejaram boa sorte no encontro com Jaciara, e seguiu direto para casa para tomar um bom banho e se arrumar. Estava superansioso para rever Jaciara e, por isso, ficou pronto com bastante antecedência. Certificou-se de que havia passado perfume, penteado bem o cabelo e escolhido a melhor roupa para a ocasião. Daí, sim, sentou-se no sofá, o mesmo em que havia adormecido com Jaciara em seus braços na noite anterior, e ligou a televisão a fim de passar o tempo. A cada cinco minutos, Varre Tudo fitava seu relógio de pulso. As horas, os minutos e os segundos pareciam se arrastar. Só conseguia pensar em Jaciara, em seu rosto, seus trejeitos, sua maneira meiga de falar. Tudo nela lhe parecia encantador.

Quando o relógio marcou 18h e 45min, Varre Tudo levantou do sofá em um salto. Era hora de sair para buscar Jaciara. Calculou que 15 minutos seriam o suficiente para chegar a sua casa. E ele estava certo. Exatamente às 19h, Varre Tudo chegou em frente à casa de Jaciara. Tocou a campainha. Ela o atendeu prontamente. Estava linda, vestida com uma calça jeans e uma blusa lilás, os cabelos um pouco soltos e um pouco presos por grampinhos da mesma cor. Cumprimentaram-se com o mesmo beijo tímido com o qual se despediram de manhã e seguiram pela rua de mãos dadas. No caminho, Varre Tudo sugeriu um restaurante que conhecia, próximo dali. Ao chegarem lá, foram conduzidos por um garçom a uma das mesas, onde começaram a folhear os cardápios. Depois de fazerem o pedido, engataram uma conversa sobre o futuro de Varre Tudo.

– E o que tu pretende fazer, Varre? Já conseguiu te decidir se vai ficar na COVAT ou se vai mesmo pra Guarda Municipal? – perguntou Jaciara.

– Pois é, Jaci, já faz tempo que eu penso nisso e não consigo me decidir. Claro, logo depois que passei no concurso fiquei feliz em ter conseguido a vaga, afinal o salário é mais alto e tem outros benefícios também. Mas, nas últimas semanas, muitos acontecimentos me deixaram indeciso. Com toda a mobilização da greve, as conquistas dos trabalhadores e, agora, com a população se conscientizando cada vez mais a respeito do lixo e da limpeza, me sinto orgulhoso de trabalhar como varredor da COVAT. – explicou Varre Tudo.

– Que legal, Varre! Realmente, se não fosse principalmente pelo seu empenho e do Abelhão nas negociações durante a greve, não teríamos conquistado aqueles benefícios todos, nem o aumento do salário. – disse Jaciara.

– É por isso que eu penso em ficar na COVAT. Por muito tempo estive indeciso, mas cheguei a conclusão de que devo ficar onde estou. Não estou mais interessado naquela vaga na Guarda Municipal. Vou continuar como varredor da COVAT e confiar no meu futuro e no meu crescimento dentro da empresa. – disse Varre Tudo.

– Muito bem. Se tu decidiu, está decidido. Deve fazer o que é melhor para ti. O que o teu coração manda. – aconselhou Jaciara.

– É mesmo. E outra coisa que meu coração está me mandando fazer no momento, além de permanecer na COVAT, é ficar perto de ti o máximo de tempo possível. – disse Varre Tudo, que ficou corado assim que as palavras escaparam de sua boca.

Jaciara ficou encabulada com a declaração de Varre Tudo, mas, ao mesmo tempo, abriu um sorriso imenso, deixando transparecer sua felicidade. Os dois jantaram e, depois, passaram um bom tempo de mãos dadas, conversando e trocando afagos. Varre Tudo se deu por conta de que estava, realmente, apaixonado por Jaciara. Talvez ele já fosse antes, mas nunca havia percebido. Sempre tratara Jaciara como uma amiga, apenas. Agora, estava decidido de que ela passaria a ser sua namorada. Não havia mais dúvidas. Após sair do restaurante, o casal foi para o cinema, onde compraram ingressos para conferir um dos clássicos que Varre Tudo tanto queria assistir. A noite não poderia ter sido melhor.