terça-feira, 18 de setembro de 2007

Episódio 8


... eles querem acabar com um tal documento e que o prazo é até o fim da semana. Senão... – ah, Josias, conta aí direitinho, tu que ouviu eles! – disse Shirley.
Josias suspirou e começou a falar, ainda mais baixo do que a amiga.
- Bom eles falaram que vão pegar custe o que custar, mesmo que tenham que "quebrar a Vassourinha" de vez. E aí o Juseppe falou que ama....- Josias parou de falar receoso.
Varre Tudo e Shirley olharam para a frente e o Capitão os encarava pelo espelho. Shirley, então, disfarçou e pediu ao amigo para contar detalhes da visita. Ele começou a falar entusiasmado.
- A visita foi ótima. Espero que o prefeito de Bento Largo invista nas reciclagens e em ações que preservem o meio ambiente. A cidade dele é maior que a nossa e as mudanças vão trazer benefícios para muitas pessoas. Ele ficou interessado. E olha só, adivinhem o que mais chamou a atenção dele na associação? - questionou Varre Tudo - com um largo sorriso.
- A Oca do seu Vento! - exclamou Shirley.
A Oca do seu Vento era uma casinha construída com diversos materiais encontrados no lixo. Seu Vento, que na verdade se chamava Peri, era um índio que vivia na cidade há muitos anos e não entendia como o ser humano podia causar tanta destruição ao lugar onde vivia. Em sua casinha colorida, feita com restos de caixas de leite, embalagens de refrigerantes e de sucos, folhas de cadernos, com temas e poesias, ele vivia em mundo dos sonhos, como gostava de falar aos colegas da reciclagem.
- A oca chamou a atenção sim! O prefeito até entrou nela e fez questão de conhecer o seu Vento e tirar fotos com ele. Mas, ele ficou impressionado mesmo com as imagens dos santos. Acho até que ficou com um pouco de medo. Até contei pra ele do dia em que nós nos incomodamos com a fiscal, aquela Rinalva Shillin, que nos atormentou a tarde toda para recolher a macumba que tinham feito lá no parque. – disse Varre Tudo rindo.
- Aquela sim era medrosa! – afirmou Shirley.
- Ei! Não sei do que estão falando, me ponham na conversa! – gritou Josias indignado.
- Tinha uma bandeja lá no parque com bombons, balas e pirulitos. Ela mandou a gente limpar e veio atrás pra ver se tínhamos recolhido a bandeja e começou a gritar quando viu que eu e o Varre estávamos comendo os bombons. Eu dou risada até hoje da cara dela. Ela ficou chocada! E até ameaçou a gente. – conclui Shirley sorridente.
De repente, o Capitão do Mato deu uma freada brusca; Varre Tudo, que estava distraído, caiu no chão.
- O que tu tá fazendo? Tá maluco, cara? – indagou Josias.
- Fica na tua, Josias. Tenho que resolver uns lances aqui e já volto. – gritou o Capitão, enquanto descia da Kombi.
O Capitão caminhou alguns passos e entregou um envelope a um homem. Enquanto Shirley tentava ver o homem, que estava no escuro e vestido de preto, com um chapéu encobrindo o rosto, Varre Tudo indagava o amigo para que contasse o que mais tinha ouvido da conversa entre Juseppe e o Capitão.
- Ele disse que amanhã vai... droga, ele já está voltando – sussurrou Josias.
Os amigos percorreram o resto do caminho em silêncio. Mas mesmo perdidos em pensamentos todos pensavam no que o Capitão estava planejando. Eles tinham parado em frente a um bar, em um dos bairros mais perigosos da cidade. Varre Tudo pediu para ficar primeiro em casa; ele inventou uma desculpa, mas todos sabiam que queria evitar ficar sozinho com o Capitão. Josias disse que ia ficar com o amigo, mas quando tentou descer da Kombi, o Capitão arrancou e ele caiu sentado. Eles estavam assustados, e Varre Tudo ficou ainda mais ao chegar em casa. Não tinha luz e o sinal do telefone estava mudo. Ele respirou fundo e decidiu tomar um banho frio para pôr a cabeça no lugar. Depois do banho, caiu na cama e, quando abriu os olhos, o dia já estava amanhecendo. Ele levantou e foi até a janela.
- Foi apenas um sonho. Ninguém seria tão maluco a ponto de fazer tudo isso, apenas para impedir... – ele interrompeu seus pensamentos, ao olhar para o portão da casa. Havia uma caixa lá. Ele abriu a porta, pegou a caixa e quando a abriu...

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