quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Episódio 10


Varre Tudo caminhou por mais algumas quadras, sempre mantendo o ritmo acelerado. Os passos largos davam a impressão de que estava correndo ou fugindo de alguém. O esforço por movimentar-se rapidamente somado à agonizante sensação de estar sendo perseguido e observado deixaram-no com a respiração ofegante. Varre Tudo estava visivelmente assustado e, de minuto em minuto, voltava-se para trás e espiava por cima do próprio ombro pra verificar se havia alguém à sua espreita.
Cada vez mais apreensivo, Varre Tudo procurou concentrar-se em sua ligeira caminhada. Mantinha os olhos fixos nas emendas da calçada e tentava evitar olhar para trás. Estava próximo a uma esquina, prestes a atravessar a rua, quando, ao levantar a cabeça para ver se o semáforo indicava livre passagem, foi surpreendido. Um homem alto, todo vestido de preto e com um chapéu de mesma cor, o empurrou violentamente. O varredor não teve tempo de reagir e, em uma fração de segundo, viu-se estendido próximo ao cordão da calçada. O tombo o fez sentir as costas e os cotovelos, partes do corpo que foram de encontro aos paralelepípedos irregulares. Gemendo de dor, Varre Tudo tentava se recompor do susto e entender o que estava acontecendo, quando ouviu uma voz ameaçadora lhe comandar:
– Passa já a carteira, varredor! Depressa! – ordenou o homem que o havia empurrado.
– O quê? – perguntou Varre Tudo, desnorteado.
– Eu mandei me passar a carteira! É um assalto! E anda logo com isso, varredor! – gritou mais uma vez o homem de vestimentas pretas.
Varre Tudo deu uma olhada ao seu redor. Em plena luz do dia, não avistou ninguém circulando pelas ruas, apenas alguns carros que passavam indiferentes ao que lhe acontecia. De qualquer maneira, Varre Tudo logo desistiu de pedir socorro. Ao passar os olhos rapidamente pela silhueta do assaltante, percebeu que o homem mantinha uma das mãos dentro do longo e pesado casaco preto, dando a idéia de que empunhava uma arma de fogo. Nunca havia tido a experiência de ser assaltado e, agora, sabia exatamente o quanto a situação era aterrorizante.
– Vamos logo com isso! Tá querendo levar um tiro? – ameaçou o assaltante ao mesmo tempo em que mexia a mão encoberta pelo casaco, com o intuito de deixar claro que estava portando uma arma.
– Não, não. Já vai! Não atira, por favor! – implorou Varre Tudo, agora, muito assustado.
Sentado na calçada, o varredor começou a tatear os bolsos da calça do uniforme em busca de sua carteira. Encontrou-a e, quando estendeu a mão para entregá-la ao assaltante, levantou um pouco a cabeça e tentou identificar o homem, mas boa parte do rosto estava encoberta pelo grande chapéu negro.
– Finalmente! – disse o assaltante, arrancando, num movimento brusco, a carteira da mão de Varre Tudo. E, antes de afastar-se, disse em tom sarcástico:
– Até mais, Vassourinha!
O homem saiu correndo por entre os carros que passavam pela rua. Varre Tudo, ainda apavorado com o assalto, levantava-se da calçada. De pé, conferiu o uniforme e percebeu que uma das mangas haviam se rasgado na altura do cotovelo, provavelmente devido ao atrito com a calçada na hora em que foi derrubado. Convencido de que não havia nada que pudesse fazer naquele momento para recuperar sua carteira, Varre Tudo retomou sua caminhada em direção ao Parque dos Sabiás. No caminho, pensava sobre as últimas palavras ditas pelo assaltante antes de fugir – “Até mais, Vassourinha!”. Aquela frase de despedida o deixou incomodado, não apenas pelo fato de indicar um possível segundo encontro com o assaltante, mas também, porque, até então, apenas Juseppe o chamara de Vassourinha. “Será que o assalto estaria, de alguma forma, relacionado com Juseppe?”, perguntava-se o varredor.
Em poucos minutos, Varre Tudo chegou ao parque. Lá, foi direto ao encontro de Josias e Shirley para logo contar aos colegas o que havia lhe acontecido.
– Bom dia, Varre Tudo! – cumprimentou Shirley, que varria um punhado de folhas secas para dentro da linguaruda. – Como tu te atrasou, eu peguei teu carrinho, tua vassoura e a linguaruda e comecei a varrer por aqui. – explicou ela.
– Não tem problema, Shirley. Me atrasei porque fui assaltado no caminho da prefeitura até aqui. Tomei o maior susto. – disse Varre Tudo para a colega.
– Capaz, Varre Tudo! Sério? Minha nossa, mas e tu tá bem? Não te machucaram? Quem te assaltou? O que levaram de ti? – indagou a varredora, surpresa com a notícia.
– Eu estou bem, só rasguei o uniforme e esfolei o cotovelo por causa do tombo. Quem me assaltou? Sei lá, né, Shirley. Como é que eu vou saber? A única coisa que consegui ver foi que o assaltante tava todo vestido de preto, com chapéu preto e tudo. E ele me levou só a carteira...e, peraí...
Varre Tudo tateou os bolsos a fim de encontrar o documento que pegou na prefeitura, mas não encontrou. De repente, um calafrio lhe percorreu o corpo e ele disse à Shirley:
– Não pode ser! Eu tinha colocado o documento dentro da carteira! O assaltante levou com ele! Não acredito! – exclamou Varre Tudo, apavorado.

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