sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Episódio 16


Depois de alguns segundos de silêncio ao telefone, Varre Tudo decidiu:
- Jaciara! Tu pode almoçar comigo hoje? A gente pode ir lá no Lanche do Chico. Isolados da turma, podemos conversar. Eu preciso mesmo desabafar com uma amiga. Minha vida anda muito agitada.
- Ai, tá chegando um monte de lixo pra separar hoje. O Seu Vento não vem no turno da tarde. Mas senti que tu precisa de uma força, vou dar um jeito.
- Que bom, Jaci! E, por favor, guarda o documento e não comenta nada sobre ele com ninguém. Até logo!
- Tá certo. Até, Altayr! Abraço.
Varre Tudo pegou a linguaruda e foi até o parquinho infantil, onde estavam Shirley e Josias.
- Bom, um dia é cano estourado, no outro é assalto, no outro imprensa, espero que amanhã eu possa trabalhar normalmente. Já perdi muito tempo hoje, vou indo lá pro Enforcado que hoje eu tenho que limpar por lá – avisou.
Os amigos disseram um “Até mais” e o varredor se foi rápido com sempre. Quando estava próximo da Árvore do Enforcado, criou coragem e ficou observando a árvore. Tentou desvendar algo e pensou se tinha realmente visto um vulto por aí outro dia, se podia ser um bicho ou simplesmente uma pessoa. Sentiu outro arrepio. Acelerou seu trabalho ainda mais, para passar logo para a outra quadra.
Se alguém ficasse observando seu trabalho naquela manhã de quinta-feira, podia achar curioso, ou até interpretar que ele andava meio maluco. As expressões de seu rosto variavam, mudavam repentinamente. O rapaz, enquanto fazia suas tarefas, sorria e, volta e meia, dava uma risada. Passava um tempo e ele tinha um rosto triste, preocupado.
Em seguida, já na hora do almoço, Varre Tudo chegou primeiro à lancheria e pediu o almoço dos dois. Jaciara se atrasou.
- Desculpa a demora, mas chegaram três caminhões há pouco lá na reciclagem. Tive que deixar o serviço todo encaminhado. Hoje é dia de entregar os plásticos e latas. Ainda bem que o Marcelo esperou, senão eu ficava sem carona.
- Não tem problema. Eu já pedi um À La Minuta. E... me conta! Como é que tu foi achar o meu documento no meio de toda aquela papelada?
- Ah... Muito estranho, Altayr, muito estranho. Tinha um saco preto de lixo que tava com um cheiro muito ruim. O material, que chega lá pra nós, nunca tem cheiro muito forte, porque não é lixo orgânico, né. Aí, eu abri o plástico lá fora e tinha um papagaio morto dentro. O teu documento tava lá no meio. Ai... Será que é macumba!? Essa pessoa que te roubou deve tá metida em muito rolo. Acho que a gente precisa resolver essa história. Tu já foi na polícia?
- Eu fui na Delegacia. Registrei a ocorrência, mas só isso. Agora eu tenho que refazer todos os meus documentos. – lamentou-se Varre Tudo – Essa história, Jaciara, tá muito mal contada. O assalto, o incêndio, como pode acontecer tanta coisa num dia?
- Olha só... eu te ajudo a investigar. Tô desconfiada de algumas coisas. Tem gente agindo de um jeito muito estranho. Ainda não sei se essa pessoa seria capaz de tanta sujeira... Ah! - Jaciara pôs a mão na bolsa e tirou dela o documento, que estava um pouco manchado – E isso aqui, mocinho!? Tu não ia me contar, não?
- Ah... Ia sim. Mas agora que tu já sabe, guarda segredo por uns dias. Eu vou esperar mais um tempinho pra contar pro pessoal lá do parque. Até achei graça que ninguém tá sabendo ainda. Tenho medo de contar e algumas pessoas ficarem chateadas comigo. E também, esta semana, tenho tanta coisa na cabeça, que vou esperar. Mas, logo eu conto – argumentou Varre Tudo.
- Tudo bem, tudo bem... Mas aquele papagaio? Se eu deixar lá na reciclagem é bem provável que eu vá me complicar. Vou procurar um responsável. Acredito que tudo esteja ligado ao teu assalto. De repente a gente consegue uma pista. Deixa comigo!

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