terça-feira, 11 de setembro de 2007

Episódio 3


Mal ele terminou de falar, avistaram a Kombi da COVAT cruzando a entrada principal do parque.
- Nossa! O que ele faz aqui tão cedo! – exclamou Josias.
- No mínimo, a praça está imunda. – arriscou Shirley.
Varre Tudo, que estava decidido a compartilhar com os amigos a ansiedade e angústia que sentia desde cedo, perdeu a coragem. Afinal, a vida deles de certa maneira também iria mudar. Ele suspirou e tentou deixar os pensamentos de lado e se concentrar no trabalho.
- Vamos varrer, pessoal! Até ele circular o parque termino pelo menos essa rua! E, Josias, o vento está vindo do sul, então vamos varrer ao contrário! – disse Varre Tudo.
- Calma! Eu sei que temos que varrer contra o vento! Ei, o que deu em ...
Varre Tudo deixou o amigo falando sozinho. Ele começou a varrer o parque como quando ganhou o apelido, parecia um desenho animado, com o rosto escondido pelo chapéu, não deixando nada para trás nem sequer um toco de cigarro. Varre Tudo precisava ficar sozinho, seu pensamento acompanhava os movimentos da vassoura.
- Shirley, o que deu nele? – perguntou Josias, magoado.
- Não dá bola. Ele deve estar com problemas, logo passa. Vem, vamos ajudar ele. – chamou ela.
Eles seguiram o amigo e os três varreram a rua em silêncio, com a sincronia de sempre. Os rapazes varriam e Shirley ajuntava o lixo com a linguaruda. Chegaram ao Buraco da Arzelina e Varre Tudo sentiu um calafrio ao olhar para a Rua do Enforcado. Ele conteve o grito, fechou os olhos e, quando abriu, não viu mais nada.
- O que está acontecendo? – pensou em voz alta.
- O que tu tem, cara? Não confia mais na gente? – perguntou Josias.
- Pô, Altayar! Fala de uma vez! – gritou Shirley.
- Te deixei braba? Tu só me chama assim quando está muito braba comigo, mas eu preciso de um tempo. Sei que estou estranho hoje, mas vai passar. É que eu...
- Pronto! Lá vem o fiscal! – disse Shirley olhando a Kombi se aproximar.
- Ei, Capitão do Mato! O que faz aqui tão cedo? – perguntou Varre Tudo.
- Estourou um cano na frente da prefeitura, tem lixo espalhado por tudo, vim buscar vocês! Vamos! – disse ele.
- Faz um tempão que te vimos chegar! Mais de uma hora pelo menos. O que tu tava fazendo?
- Eu. Ah. Eu não te devo explicações, Josias! Entra aí e vamos de uma vez, que as “autoridades” têm visita de fora hoje. Querem conhecer a reciclagem.
Varre Tudo foi o último a entrar na Kombi, ele continuava olhando a árvore. Nunca havia sentido medo daquela árvore, mas hoje, depois da “visão” que teve, ele ficava arrepiado. Quando passaram ao lado dela, ele percebeu o quanto era sinistra a árvore do Enforcado. Ela era diferente em meio às outras, assustadora, na verdade. Mais uma vez foi interrompido.
- E então, Vassourinha? Tu que sempre está por dentro das notícias, por que querem conhecer a reciclagem? – indagou o Capitão do Mato.
Varre Tudo, ignorando o “Vassourinha”, que era a forma encontrada pelo Capitão para tirá-lo do sério, respondeu.
- Desde que instalaram as novas lixeiras, a população está separando o lixo orgânico do seletivo, o que vem contribuindo para a educação e conscientização ambiental, além de garantir que o pessoal da reciclagem tenha a renda garantida. Acho que é por isso. – afirmou ele.
A COVAT era responsável pela implantação de um novo modelo de coleta de lixo e as pessoas ainda estavam se adaptando. Varre Tudo se lembrava das primeiras conversas sobre o sistema, o medo dos funcionários de perderem o emprego, tudo ainda era muito vago, ninguém tinha certeza do que realmente ia acontecer. Mas Varre Tudo tinha outras coisas na cabeça naquele momento. Ele estava tão longe que nem percebeu que Juseppe se afastava da árvore do Enforcado, com uma expressão estranha no rosto...

Um comentário:

Anônimo disse...

Quanto suspense hein! Fiquei curioso pra ver o próximo episódio!

:)