quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Episódio 14


Emocionou-se ao ver a foto de dona Arzelina em seus braços e aorelembrar seu rosto, seu sorriso e sua alegria de viver. Queria poder ajudar de alguma maneira, mas sabia que era inútil naquele momento.
Seus pensamentos foram interrompidos pelos colegas, indagando sobre o resgate de dona Arzelina, como havia sido, se ele sabia quem colocara fogo no parque, enfim, Varre Tudo sentiu-se como um jogador de futebol em entrevista coletiva. Riu, baixinho, e por um instante conseguiu relaxar e conversar com os colegas, sem pensar nos problemas que enfrentara nos últimos dias. Aproveitou para contar toda a história do assalto, da perda do “convite de aniversário da prima” e do incêndio no parque.
Enquanto contava aos colegas sua ‘via sacra’, viu Juseppe passar rapidamente por entre as árvores do parque e sair sem dizer adeus. Deu de ombros e continuou sua história.
10 minutos depois, Juseppe chega àGráfica Papagaio.
- E aí, Maurício, beleza? Fez aquele esquema pra mim? – indaou, piscando o olho esquerdo.
- Fala, Juza. – disse o balconista, chamando o guarda pelo apelido pouco conhecido. – Fiz sim, tudo certo, e dei ‘cabo’ do outro documento pra não ter problema.
Juseppe, sem entender direito, pediu para Maurício repetir o que havia dito. O moço repetiu, e então Juseppe precisou segurar-se no balcão para não cair.
- Meu deus! Tu tá maluco? Aquele documento era ultra-secreto, tu devia ter devolvido pra mim, eu daria um fim definitivo nele! Como é que vou saber se tu te desfez dele com 100% de certeza? Tu tá rateando, cara! – vociferou Juseppe, num misto de raiva e apreensão, preocupado com o fim que Maurício dera no papel.
- Bah, Juza, que stress! – disse, calmamente. – Eu sou fera né, cara, tu acha que eu ia te prejudicar? Coloquei o documento na pilha de papel pra reciclar, não queimei pra não criar suspeitas. Aquele papel separado vai todo pra fazerem outro papel, ninguém vai desconfiar que lá tem um troço importante, né? – disse Maurício, achando sua idéia extremamente inteligente. – Terça mesmo o caminhão levou. Essa hora já eras aquele papel. – sorriu o balconista.
Foi nesse momento que Juseppe pôde respirar aliviado. Afinal, sabia da eficiência das reciclagens de Nova Santa Rita, e teve certeza que o papel já estava em meio a outros, perdido, para nunca mais ser encontrado.
- Pô, Maurício, tu quer me matar do coração? Troxão! – disse o guarda, relaxando os ombros e soltando calmamente o ar dos pulmões. – Me dá aqui o novo documento, deixa eu ver como ficou.
- Ficou jóia, né, Juza, eu sou profissional, esqueceu? – argumentou Maurício.
Olhando atentamente, Juseppe apreciou com orgulho o trabalho do amigo. Realmente ficou muito boa a alteração do documento. Certamente ninguém desconfiaria de nada. Juseppe sorriu para Maurício e saiu sem olhar para trás, guardando cuidadosamente o papel no bolso do uniforme.
O dia transcorreu normalmente no Parque dos Sabiás. Nenhuma novidade, nenhum atentado, tudo tranqüilo. Varre Tudo sentiu-se bem, há dias não tinha uma rotina tão calma, tão “normal”. Despediu-se dos colegas e aproveitou para dar uma passadinha no hospital e ver dona Arzelina. O estado dela era estável. Cansado, Varre Tudo resolveu ir para casa e rezar. Pediu aos céus proteção e muita saúde para dona Arzelina e agradeceu por mais um dia de trabalho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pô! Para casa rezar??? Hehehehe