segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Episódio 2


Seria realmente muito estranho e assustador se uma mudança tão radical acontecesse em sua vida. Varre Tudo estava confuso e assustado com as mudanças que poderiam ocorrer, principalmente em seu dia-a-dia. Acostumado à agitação do trabalho na COVAT, ele estava com a pulga atrás da orelha. Mas lembrou-se da frase da sua mãe, Rebeca. “Tudo é uma questão de habituar-se”. E foi assim também na COVAT, foi uma questão de habituar-se ao local. Resolveu que era muito cedo para contar a novidade a alguém.
Relembrar a sua trajetória era como relembrar a própria história da COVAT, que foi fundada há pouco tempo pelo atual prefeito, seu Mostarda Mourão. Nova Rita Santa era um município pioneiro na reciclagem do lixo, até ganhou prêmio nacional de cidade mais limpa do Brasil. Uma beleza! Nova Rita Santa também concentrava a maior cadeia de Associações de Recicladores do Estado. A maioria das pessoas do interior do município ou de bairros mais pobres tiravam a renda do lixo. Varre Tudo inclusive fazia parte da equipe responsável por mostrar aos alunos das escolas como era o processo de reciclagem.
Mas, antes de qualquer coisa, antes de se perder em suas lembranças, era preciso trabalhar. E trabalhar significava varrer todas as ruas do Parque dos Sabiás, que estava muito sujo em função do final de semana. Pegou sua vassoura e deixou dona Arzelina preparando o café, que ela fazia questão de fazer todos os dias.
- Tchau, dona Arzelina! Tô indo. - e foi tão rápido que a pequena senhora, de pele negra e passos curtos, nem pode se despedir direito.
- Já vai, meu filho? Toma um café. Mas esse menino não leva jeito mesmo. Anda tão rápido por aí...
Varre Tudo desceu a escada, iria começar a limpeza pela rua do Enforcado, que ficou conhecida há uns dois anos porque um homem foi encontrado ali, nem precisa contar como.
- Onde tu vai, Varre Tudo, com tanta pressa? – perguntou Juseppe.
- Eu tenho que varrer a rua do Enforcado...
- O quê? – Perguntou o guarda. – que rua do Enforcada é essa rapaz. Tá ficando louco? – e, como não era muito dado à limpeza, Juseppe jogou no chão o toco de cigarro.
- Já falei que o senhor não deveria fumar tanto. Afinal....
- Afinal, meu rapaz, você não ia varrer a tal da rua??
- Sim. Seu Juseppe, eu queria conversar com o senhor. Hoje pela manhã eu recebi um documento do meu primo Jéferson... - não conseguiu terminar a frase, foi interrompido por Juseppe.
- Olha, se for para falar sobre aquela comunicação, eu sei... – disse Juseppe, muito brabo. – já me contaram. Então, meu caro rapaz, vá varrer a sua rua.
Varre Tudo juntou o toco de cigarro com a vassoura e empurrou para a linguaruda, uma espécie de pá que inventou junto com a Shirley e o Josias. A linguaruda era um saco de lixo amarrado com uma corda em um pau de vassoura, tudo para facilitar o recolhimento das folhas do parque. Juseppe saiu balançando a sua gorda barriga.
Varre Tudo ia em direção à rua do Enforcado, quando encontrou Shirley e Josias.
- Viu, galera! – gritou Varre Tudo. – Vamos para a rua do Enforcado, quero limpar aquela área e preciso da ajuda de vocês.
- Ai! Quanta sujeira. Não sei como é que pode as pessoas gostarem tanto dessa rua. Na segunda-feira tá sempre tão cheia de lixo. – resmungou Shirley.
- Olha! Olha! O Enforcado... Tô vendo ele... Meu Deus! – gritou assustado Varre Tudo.
Shirley e Josias correram na direção do amigo. Ao chegarem ao local, não viram nada.
- Mas eu podia jurar que ele estava naquela árvore. Vocês não acham que estou ficando louco, né?
- Hummm! – disse Josias. – eu acho que sim.
- O que está acontecendo, Varre Tudo, você está com uma cara estranha hoje. Algum bicho te mordeu? – indagou Shirley.
- Não, é que estou meio confuso. Tenho uma coisa pra contar a vocês, mas não sei por onde começar...

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