terça-feira, 25 de setembro de 2007

Episódio 13


Antes mesmo de abrir os olhos, Varre Tudo ouviu as sirenes e então se deu conta de que ainda estava no hospital. Ele havia passado grande parte da noite em claro, andando pelos corredores do Hospital Nova Rita Santa, preocupado com dona Arzelina. Por isso, ele estava se sentindo tão cansado e com dores no corpo todo. Ele se espreguiçou e levantou-se lentamente. Foi até o banheiro e, após lavar o rosto, caminhou pelo longo corredor. Quando passou pela recepção, todas as pessoas olharam para ele.
- Nossa! Minha aparência deve estar horrível. Tô com a roupa rasgada e preciso de um banho. – pensou ele.
Falou com a enfermeira, mas dona Arzelina ainda estava em observação e dormia profundamente.
- Como ela está, moça? – perguntou a uma senhora simpática que estava no quarto.
- Ela inalou muita fumaça e também bateu a cabeça, tem um corte profundo e... – mas Varre Tudo não conseguia mais se concentrar na enfermeira. Ele abanou com a cabeça e disse que voltava mais tarde.
- Eu, hein! Agora que eu ia...Deixa pra lá... – disse Elisa – já que o rapaz nem lhe deu atenção.
O coração de Varre Tudo disparou.
- Não pode ser! Fui roubado, os “drogaditos” colocaram fogo no parque, dona Arzelina está com a cabeça machucada e Jussepe não estava lá, enquanto tudo acontecia. Será que estou com mania de perseguição? Pode ser apenas coincidência. Mas, mesmo assim, eu tenho que fazer alguma coisa! Que saco! Por que todos me olham desse jeito? – pensava.
Passou em casa rapidamente para tomar banho e trocar de roupa, engoliu o café e saiu comendo um sanduíche. Já eram sete horas, ele devia estar no trabalho. Afinal, nunca havia faltado, agora não seria diferente. No caminho, as pessoas continuavam olhando para ele com curiosidade. Quando entrou na COVAT, tornou-se “conhecido” na cidade, ganhou até apelido, mas logo depois todos esqueceram seu rosto e ele se tornou apenas mais um gari, escondido em meio a todos os outros, também responsáveis pela limpeza das ruas e dos parques. Mas, agora, enquanto caminhava lentamente até o trabalho, todos o fitavam com curiosidade.
- Pensei que todos me observavam porque estava sujo, não entendo! – pensou ele.
O ônibus lotado fazia com que Varre Tudo se sentisse uma sardinha. Mas, apesar da situação desconfortável, estava mais tranqüilo, pois, assim, ninguém podia ver seu rosto. Ele não conseguia parar de pensar em tudo que havia acontecido nas últimas horas. Estava confuso, eufórico, triste e assustado ao mesmo tempo. Além disso, tinha que cuidar da dona Arzelina, que não tinha parente na cidade. Varre Tudo desceu do ônibus apressado. Começou a ignorar os olhares, pois já estava constrangido com o jeito como as pessoas o fitavam e cutucavam umas as outras, cochichando enquanto ele passava.
Quando abriu a porta da sala central da COVAT, os colegas do turno anterior estavam ao redor da mesa observando alguma coisa. Eles pararam de falar assim que viram Varre Tudo entrar. Magali, uma moça que trabalhava na varrição à noite e era encantada pelo rapaz, o olhou sorrindo, os olhos brilhando.
- Você é um herói! – exclamou ela.
Ela caminhou ao encontro dele e o abraçou, dando um beijo estalado em sua bochecha, enquanto o rapaz corava. Magali lhe entregou o jornal "Picadeiro - Diário de Integração da Cidade". Ele chegou a perder o fôlego ao ver seu rosto estampado na capa.

VARRE TUDO SALVA SENHORA DE DEPÓSITO EM CHAMAS
Antes mesmo de os bombeiros chegarem, Altayr, conhecido como Varre Tudo, entrou no depósito da empresa COVAT, localizado no Parque dos Sábias, e salvou a colega de trabalho Arzelina Oliveira. O local estava em chamas. Pg. 12
Por um momento, Varre Tudo esqueceu todos os problemas, enquanto abria o jornal para ler a matéria na íntegra.

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