
- Sabe pessoal, agora me lembro que em 1984 meu tio trabalhava na COVAT e um cara se machucou quase da mesma forma que o Júnior. Mas, naquela época a coisa era pior, os trabalhadores da empresa nem tinham insalubridade e não eram assistidos quando ocorriam acidentes como esse. – relembrou Abelhão.
- Nossa! Em lembrar que uma vez era bem pior. – comentou Josias.
- Olha! Eu sou a favor da gente fazer alguma agitação. Agora me lembro de outro caso, há uns dois anos, em que uma mulher foi atropelada na rua enquanto varria, e a COVAT abafou o caso e depois a mulher foi demitida. – disse Varre Tudo que naquele momento já estava nervoso com todos os acontecimentos.
- E para piorar, nosso salário está muito baixo. Poxa! No meu caso que tenho mãe e irmã para sustentar, está ficando cada vez mais complicado. – disse Josias.
- Ih Josias! E o meu namorado, quer que eu saia da COVAT para arranjar um lugar em que eu ganhe mais. – retrucou Shirly.
- Bem, diante desse quadro em que a gente se encontra, más condições de trabalho e baixos salários, eu sou a favor que a gente entre em estado de greve. – disse Abelhão, que já tinha na família, trabalhadores sindicalizados e mais conscientes com essa história de direitos trabalhistas.
- Mas, e como se faz uma greve? – perguntou ingênuo Varre Tudo.
- Olha Varre! – respondeu Abelhão. – Não é uma coisa muito simples, exige muito envolvimento, tem que participar de reuniões, definir um plano de ação, colocar no papel as nossas reivindicações, ter um diálogo aberto com os patrões, enfim, é uma coisa de envolvimento mesmo.
- Nossa Abelhão! Onde tu aprendeu tanta coisa, até parece aqueles intelectuais da faculdade... hehehe. – brincou Shirley.
- Não isso que tu falou Shirley, é que quando eu era criança meu tio sempre me levava nessas assembléias e eu convivi com isso. – explicou Abelhão.
- Ah! – disse em coro os amigos.
- Mas então, por onde vamos começar? – falou Varre Tudo.
- Parando de trabalhar. – disse Josias, meio irônico.
- Sim, mas acho interessante a gente começar a nossa greve levantando uma pauta de reivindicações, tomando como base esse acidente com o Júnior e relembrando os fatos chocantes da história da COVAT. – comentou Abelhão.
- Isso mesmo Abelhão. Gostei da idéia. – falou Varre Tudo já puxando um pedaço de papel da mochila e uma caneta. – vou escrever aqui as nossas reivindicações, depois a gente passa a limpo. – disse Varre Tudo.
Varre Tudo começou a listar algumas prioridades para a categoria de varredor, capinador e coletor de lixo da COVAT. Ele foi listando em voz alta, com a ajuda dos amigos.
- Primeiro ponto: aumento real nos salários de 15%
- Segundo ponto: insalubridade para todos os trabalhadores com direito a atendimento médico de urgência.
- Terceiro ponto – diz aí dona Arzelina. – falou Varre Tudo.
- Terceiro ponto – disse Arzelina. – eu acho que é uma aposentadoria digna. Como se diz mesmo Abelhão? Plano de quê?
- Plano de carreira – explicou Abelhão.
- Isso mesmo! Anota aí Varre Tudo. Terceiro ponto: plano de carreira para os aposentados.
- Quarto ponto: auxílio creche! – disse Shirley. – ano que vem pretendo ter um bebê...
- Quinto ponto: auxílio alimentação de 5% todo o mês. – disse Abelhão. – por que a gente tem que comprar comida, né?
- Sexto ponto: não descontar do salário os dias de chuva. Vocês viram que está rolando uma história para descontar os dias não trabalhados em função da chuva. A gente não tem culpa. – disse Varre Tudo, sempre informado.
- Sétimo ponto: o pagamento de hora extra e não banco de horas, como eles fazem hoje. – contribuiu Josias.
- Bem pessoal, acho que era isso. Será que tem mais alguma coisa? – disse Abelhão.
- Ah, acho que por enquanto não. – disse Varre.
- Escuta Varre, já que você começou a escrever, passa a limpo isso, com letra bonita e amanhã a gente faz xerox e escolhe uma comissão para falar com a direção da COVAT. - Certo! Deixa comigo. A partir de amanhã, Nova Rita Santa vai começar a tratar melhor quem trabalha com o lixo. Agora é greve! – concluiu Varre Tudo.
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