quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Episódio 25


Enquanto Dona Arzelina fazia aquela inesperada revelação para os amigos, Junior seguia o mais rápido possível em direção ao escritório da COVAT. O varredor estava determinado a arrumar uma vaga na coleta do lixo, já que há dias a chuva o impedia de trabalhar e ganhar pelo seu serviço. Estava realmente preocupado com a situação, pois sabia que o tempo chuvoso afetaria negativamente seu salário.
Assim que entrou no escritório, Junior foi em direção ao balcão de atendimento aos funcionários. Havia uma secretária ao telefone, e, por isso, se obrigou a sentar em uma das cadeiras estofadas da sala de espera. Estava bastante inquieto e ansioso. Não via a hora de conseguir um modo de recuperar as horas de trabalho perdidas e de aumentar seu salário. Tão logo a secretária desligou o telefone, Junior levantou-se e, a passos largos, alcançou o balcão. Cumprimentou a secretária e disse:
– Me chamo Antônio Carlos Junior, sou varredor. Queria saber se, por acaso, há alguma vaga para trabalhar como coletor durante esses dias de chuva, em que não podemos varrer as ruas da cidade. Seria possível? – indagou Junior.
– Deixe-me ver se entendi direito. – disse a secretária tentando compreender o pedido de Junior. E continuou: – Você é varredor da COVAT e gostaria de trocar sua função dentro da empresa para coletor. É isso? – perguntou ela.
– Não exatamente. Na verdade não quero trocar de função, gosto de trabalhar como varredor. O que acontece é que, nesses dias em que tá chovendo, assim como hoje, nós varredores não podemos trabalhar e, no final do mês, essas horas são descontadas do nosso salário. Daí, já viu, né. Se chove bastante a gente recebe pouco dinheiro e não consegue pagar as contas do mês. Por isso queria fazer algumas horas, nem que sejam temporárias, na coleta do lixo. Assim garanto o dinheiro no final do mês. – explicou-se Junior.
– Tá certo. – concordou a secretária, balançando a cabeça positivamente. – Vejamos o que posso fazer por você.
A secretária analisou algumas folhas de papel que estavam à sua frente, verificou o sistema com a relação dos funcionários no computador e voltou a falar com Junior:
– Bom, há uma maneira de você fazer algumas horas adicionais na coleta para compensar às que não trabalhou como varredor. O que posso fazer é inseri-lo no sistema de folgas, ou seja, você vai ser colocado na coleta sempre que um dos coletores estiver de folga. O que acha?
– Acho ótimo! – exclamou Junior. – E quando posso começar? – perguntou ansioso.
– Pelo visto você está com pressa. Só um momento que vou conferir as folgas dos funcionários aqui no sistema. – disse a secretária enquanto olhava para a tela do computador. Ah, veja só! Se você quiser já pode começar hoje à tarde. Tem um caminhão que vai sair da COVAT daqui uns 15 minutinhos para fazer a coleta em alguns bairros da cidade. Se você conseguir se arrumar a tempo, já pode sair junto com eles.
– Opa! Que beleza! Então vou começar agora mesmo! Só preciso colocar o uniforme! – disse Junior, realizado com a possibilidade de reaver parte de seu salário.
Ele agradeceu à secretária pela ajuda e seguiu em direção ao vestiário da empresa a fim de colocar o uniforme. Em poucos minutos estava pronto para iniciar o trabalho junto aos outros rapazes que já embarcavam no caminhão. Quando chegou ao pátio da COVAT, apresentou-se aos novos colegas de serviço e pendurou-se no caminhão, que em seguida partiu do local. No caminho, Junior conversava com os outros coletores e explicava a eles sua situação.
– Daí nos dias em que chove, como hoje, por exemplo, a gente fica sem trabalhar e também sem receber. E agora no início da primavera costuma sempre chover bastante...aí, recebemos um pingo de salário no final do mês. Por isso que optei por fazer essas horas aqui na coleta. – relatou Junior.
– Mas e me diz uma coisa, camarada...tu tem experiência na coleta? Alguma vez já trabalhou assim no caminhão, como agora? – perguntou um dos coletores com quem Junior conversava.
– Na verdade não tenho muita experiência não, só trabalhei como coletor por um mês, assim que entrei para a COVAT. Logo depois me tornei varredor. – respondeu Junior. – Mas acho que não tem mistério fazer a coleta. – completou.
– É, não tem mistério, mas tem que ser rápido, ter fôlego e um bom preparo físico para acompanhar o caminhão. Não é mole, não! Mas só porque hoje é teu primeiro dia a gente te dá uma ajudinha se for preciso. – disse o coletor em meio a gargalhadas.
Começaram a coleta pelo bairro Olga Jandira Vagner. Junior esforçava-se para acompanhar o ritmo do grupo de coletores e não demorou muito para que se sentisse cansado de subir e descer do caminhão. Além disso, era necessário ser rápido e preciso ao arremessar os sacos de lixo para dentro do caminhão, que em segundos eram triturados pelo compactador. Numa das vezes em que embarcou de volta para então jogar os sacos de lixo dentro do veículo, Junior enlaçou, acidentalmente, o nó de umas das sacolas nos dedos das mãos. Sem perceber o que havia acontecido, lançou os embrulhos de lixo em direção ao compactador. A última sacola, no entanto, teimou em não se desvencilhar de seus dedos e, quando menos esperava, Junior teve a mão puxada pelo mecanismo de compressão do caminhão. Sua mão ficou presa, sem que ele conseguisse movê-la. O movimento do compactador esmagou sua mão, fazendo escorrer-lhe sangue pelo braço. Junior soltou um grito de pavor e dor e, em questão de segundos, estava inconsciente.

Um comentário:

garis disse...

Lauren!

Ficou dez!
Adorei!

Beijão meninas!

Aline