quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Episódio 19


O domingo estava quente e ensolarado. Jéferson acordou apreensivo e tratou de chegar cedo à Praça Pio X.
Do outro lado da cidade, Varre Tudo ligava para a amiga Jaciara. Queria convidá-la para um passeio e para que almoçassem juntos, mas temia que a moça desconfiasse de algo. Ligou, falou calmamente, e a amiga aceitou o convite.
- Oi, Varre. O Juseppe acabou de desmarcar comigo de última hora. Disse que tinha um compromisso inadiável. – contou a moça. – Aceito, sim, teu convite, te encontro daqui a pouco ali na praça e almoçamos depois, ok?
O jovem concordou com um discreto ‘ahãm’ e desligou. Encontraram-se os três na Praça Pio X. Jaciara surpreendeu-se com a presença de Jéferson, e quase que instantaneamente ligou os fatos. Aquele convite tinha outras intenções. Não era um simples convite para um simples almoço.
- Ah! Eu bem que desconfiei. É uma reunião secreta, é? – indagou a moça, rindo.
Os primos se entreolharam. Assentiram com a cabeça e Jéferson contou, num só fôlego, tudo que vira na Gráfica no dia anterior.
- Eu cheguei bem malandro, pedindo umas cópias. O camarada falou umas coisas estranhas e eu entrei no jogo dele. Concordei, fui levando... e. quando, vi eu tava nos fundos da gráfica. Lá ele me mostrou vários papéis, carimbos, impressoras. Eles fazem, realmente, falsificação de documentos! – exclamou Jéferson, encarando os dois.
- Meu Deus! – surpreendeu-se Jaciara. – Eu não posso acreditar. Como, mas por quê? Quem levou teu documento lá, Varre? Não tô entendendo. – suspirou a moça.
Varre Tudo, que depois dos últimos dias já não se surpreendia com mais nada, deu de ombros.
- Isso eu não sei e não entendo mais nada. Tô ficando cansado dessa história. – desabafou.
O primo, que não sabia como responder às questões de Varre Tudo e Jaciara, resolveu quebrar o gelo e revelar outras coisas que vira na Gráfica.
- Mas, o que eu realmente não entendo. – disse, pausadamente. – E o que o Juseppe fazia lá? O teu namorado, Jaciara!
- O quê? Não pode ser ele! Tu te confundiu! Imagina o meu Juseppe! – riu Jaciara, com o nervosismo aparente.
- Era ele sim. Eu li no crachá. – sentenciou Jéferson. E o pior de tudo: nos fundos daquela gráfica eles têm animais silvestres. Eles fazem tráfico de animais raros! E o Juseppe estava a par de todo o esquema, isso que é pior.
Jaciara começou a chorar. Não conseguia entender qual a relação de Juseppe com aqueles documentos, os animais, a história toda. Chorou baixinho, enquanto o amigo Varre Tudo acariciava seus cabelos. Aquele gesto fez a moça sentir-se protegida e, ao mesmo tempo, despertou nela um sentimento ambíguo.
- Mas, Varre. – falou, secando as lágrimas. – O que o Juseppe pode ter a ver com esses caras? Por que ele mentiria pra mim? E mais: se ele tá te prejudicando, como eu vou conseguir lidar com isso? Ele é meu namorado, tu é meu melhor amigo... Eu preciso descobrir o que está acontecendo e ficar do lado de quem realmente me faz bem e é importante pra mim.
As palavras feriram Varre Tudo como um punhal. Será que devido às descobertas de Jéferson ele perderia sua melhor amiga?
Jaciara voltou a chorar.
- Eu só preciso descobrir quem é mais importante pra mim.

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