quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Episódio 24


Juseppe não alcançou Jaciara. Confuso, entrou no carro e dirigiu pela cidade, sem rumo, até o anoitecer. Enquanto a cidade dormia, Juseppe pensava no presente e no futuro, avaliando se valeria a pena arriscar o amor de Jaciara por simples egoísmo. Em casa, adormeceu, num sono sem sonhos nem pesadelos.
A manhã seguinte começou nublada. Sem saber se choveria ou não, Capitão do Mato passou na casa do pessoal da COVAT, como de costume, e mal entraram todos na Kombi, uma chuva densa encharcou a cidade.
- Bah, galera, e agora? Não vai dar pra trabalhar! Mas que droga! Cada vez menos trabalho, cada vez menos salário. Que $%#@$%! – irritou-se Junior.
- Opaaa! Têm moças aqui, ô cabeção! Olha essa boca suja. – riu Abelhão.
- Respeito é bom e conserva os dentes, seu besta. – disse Capitão do Mato, acabando com a farra.
Os colegas se entreolharam e não disseram nada. Shirley discou para seu Pedroca, e enquanto esperava a ligação, contou a idéia que tivera aos amigos.
- Vou perguntar pro Seu Pedroca se o Capitão pode nos deixar no hospital, já que a Dona Arzelina tá por lá. Quem sabe já conseguimos a alta dela hoje de manhã e passamos o dia com ela. Que acham? – indagou Shirley.
- Mas, ah guria! Tu é um gênio. Assim, se o Seu Pedroca concordar, o Capitão não pode chiar. – sussurrou Josias.
Explicado tudo a Seu Pedroca, ele concordou prontamente e acrescentou:
- Diz pro Capitão deixar vocês lá e esperar. Se a Dona Arzelina tiver alta, ele que leve vocês pra casa. Diz pra ele esperar, hein, fui eu que mandei! – explicou Seu Pedroca.
Acertados os detalhes com Seu Pedroca e Capitão do Mato, o motorista estacionou em frente ao hospital e prometeu esperar. Mal o pessoal desceu da Kombi, ele arrancou cantando os pneus.
- Mas é um tratante! Estúpido! Cachorro! Volta aquiiiiii! – gritou Shirley, indignada.
- Psiu, silêncio, isto é um hospital. Deixa ele. Se era pra fazer de má vontade, melhor ir embora. A gente vai depois de táxi. – sentenciou Varre Tudo.
- Hahaha, o Varre tá com medo que o Capitão seqüestre a gente. – brincou Abelhão, lembrando-se do episódio da prefeitura. Todos riram enquanto se encaminhavam para o quarto de Dona Arzelina.
- Surpresaaaa!!! - gritaram, abraçando Dona Arzelina.
- Meus filhos, que bom ver vocês. Que maravilha. Sabia que a moça recém me disse que posso ter alta? Bons ventos trazem vocês! – sorriu.
- Mas que beleza! Então vamos levar a senhora pra casa já, já. Vamos todos pra lá passar o dia, cuidamos de tudo pra senhora, não se preocupe. – disse Josias.
Dona Arzelina, com lágrimas nos olhos, agradeceu por tudo e assentiu com a cabeça. Depois de assinar os documentos do hospital, Varre Tudo andou na direção do grupo, mas Junior puxou-a pelo braço. Disse baixinho:
- Olha, não vou pra lá com vocês. Preciso passar no escritório da COVAT, tô apertado de grana, acho que vou pra coleta. A varrição não tá rendendo muito pra mim, não. Esses dias de chuva me matam!
- Bem, tu que sabe! Mas conversamos depois sobre isso, não quero deixar Dona Arzelina esperando. Boa sorte lá guri, te cuida hein!
Junior acenou e saiu. Varre Tudo encontrou com o restante do grupo e contou o porquê da ausência de Junior. Entraram no táxi e logo chegaram à casa de Dona Arzelina. Desceram e mais que depressa apareceu Magali, que era vizinha de Dona Arzelina, para ajudar com a organização da casa. Varre Tudo corou quando viu a moça, e ela lhe deu um abraço apertado, deixando um pouco de seu perfume na camisa dele.
Assim que acomodaram Dona Arzelina, ela agradeceu por tudo. Depois de ser questionada por Magali sobre o acidente, começou a falar o que lembrava. Após um breve relato, Dona Arzelina deu um pulo na cama. Lembrou-se de algo muito importante, mas que ainda não contara a ninguém.
- Eu não caí sozinha. Alguém bateu na minha cabeça. Um homem de preto! – falou, assustada, antes de embaraçar-se com as próprias palavras e começar a chorar.

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