terça-feira, 16 de outubro de 2007

Episódio 28




Às oito da manhã de quinta-feira Varre Tudo e os amigos estavam aguardando seu Pedroca na sala de reuniões da COVAT. Eles decidiram ainda na noite anterior formar uma comissão responsável pelas negociações. Varre Tudo e Abelhão representavam os varredores, Igor e Carlos os capinadores e Vagner e Lúcio os coletores. A reunião estava marcada para as 8h15, mas tinham chegado antes para decidirem como iriam abordar a questão relacionadas ao salário e melhores condições de trabalho.
- Pessoal, não podemos sentir medo! Se não lutarmos por nossos direitos agora, vamos estar retrocedendo! – frisava Varre.
- É isso mesmo! Não podemos baixar a cabeça! – afirmou Lúcio.
Seu Pedroca chegou acompanhado pelos três gerentes de cada departamento da COVAT e pelo Presidente Manoel Vargas. Era a primeira vez que os funcionários tinham contato com o presidente da empresa. Seu Pedroca era um homem gentil, sempre atento às questões que incomodavam o pessoal que trabalhava na rua. Conhecia a todos pelo nome, e não eram poucos, 350 pessoas trabalhavam na COVAT, 250 divididos entre a capina, a coleta e a varrição. Mas Manoel era diferente, nem sequer cumprimentava os rapazes que limpavam o pátio da empresa. Varre Tudo sentiu que as negociações não seriam fáceis.
- Bom dia!
- Bom dia, seu Pedroca! – responderam em coro.
- Bem, eu quero apresentar a vocês...
- Por favor, Pedroca! Eu dispenso apresentações, eles sabem perfeitamente quem eu sou! E vamos logo ao que interessa. O prefeito já me ligou para pedir por que os funcionários estão todos na frente da prefeitura, sentados, e com cartazes. Isso é uma vergonha! Em Nova Rita Santa isso nunca aconteceu! O que querem, afinal?
- Bem, Manoel!Viemos aqui reivindicar melhores salários e condições de trabalho. O Junior, nosso colega, perdeu a mão no compactador de lixo, porque não tinha experiência, alguém tem que tomar uma atitude! – disse o rapaz calmamente.
- Olha, guri! Eu te vi no jornal. Tu tá querendo se promover? É isso? – perguntou irritado.
- Não! Aqui está a proposta. Se não for aceita, vamos decretar greve por tempo indeterminado.
Varre Tudo entregou uma cópia a cada um deles. Seu Pedroca e os gerentes estavam preocupados. Eliseu, que cuidava da varrição e gostava muito de Varre Tudo, foi o primeiro a falar.
- Manoel, temos que analisar a proposta deles com atenção. Afinal, a COVAT, tem sido um exemplo na região graças ao desempenho dos funcionários. Então...
- Eliseu! Tu deve estar maluco! Aumento de 15%! – disse ele.
Seu Pedroca e os outros gerentes decidiram intervir.
- Por favor, aguardem lá fora enquanto decidimos! – pediu gentilmente.
Mais de uma hora depois eles voltaram à sala. Seu Pedroca disse que iam se reunir com o prefeito, mas que Manoel se negava a fazer qualquer acordo e que, caso eles não voltassem ao trabalho, corriam o risco de serem demitidos.
- Nós não vamos recuar! – afirmou Carlos.
Todos concordaram e se retiram em silêncio. Eles se dirigiram à prefeitura. Quando chegaram lá, Varre Tudo contou a todos o resultado da reunião.
- Atenção pessoal! Nossa proposta não foi aceita, nem sequer tentaram negociar. O Seu Pedroca é gente boa, mas ele segue ordens do Manoel e com o presidente não tem conversa. Eles estão no gabinete do prefeito agora. Mas enquanto não decidirem aceitar nossas reivindicações ou pelo menos negociar conosco, não vamos trabalhar.
- É isso mesmo! – gritou Magali, orgulhosa do espírito de liderança de Varre.
- Vamos lutar pelos nossos direitos! – gritavam todos.
- A greve começou! – decretou Varre.
Todos aplaudiram Varre Tudo de pé. Então cantando gritos de ordem, os funcionários uniformizados, caminharam em direção ao centro da cidade. A greve estava decretada por tempo indeterminado. E com a adesão total dos varredores, capinadores e coletores de Nova Rita Santa.

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