quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Episódio 29


O final de semana passou batido, mas não para os moradores de Nova Rita Santa. A sujeira acumulava mais a cada dia, e o mau-cheiro incomodava as pessoas. A cada turno que a COVAT deixava de trabalhar, maior era o desespero das pessoas em relação ao que fazer com o lixo que acumulava em suas casa. As lixeiras particulares estavam abarrotadas, os contêineres não tinham espaço para mais nada, e os cachorros de rua rasgavam as sacolas fedorentas em busca de alimento. A cidade, reconhecida pelo asseio e organização, agora virara um caos.
Era segunda-feira e a esperança de que a greve acabaria logo habitava o coração e o pensamento dos moradores da cidade. Eles estavam divididos entre entender ou não os motivos da greve. Muitos achavam que os funcionários da COVAT estavam desrespeitando a população, que nada tinha a ver com aquela questão, e estava sendo diretamente prejudicada. Um desses era Juseppe, que fazia questão de gritar aos quatro ventos que os funcionários da COVAT eram interesseiros e só pensavam em dinheiro. Outros entendiam a manifestação dos trabalhadores por melhores salários, mas principalmente por melhores condições de trabalho, e comentavam o acidente de Junior, entre eles, Jaciara. De um lado, a intransigência de Juseppe e sua intriga pessoal com Varre Tudo. De outro, o amor de Jaciara.
- Acho melhor não tocarmos no assunto da greve enquanto as coisas não estiverem acertadas. – disse Jaciara, olhando fixamente para o namorado.
- Concordo, cada um com sua opinião. – sussurrou Juseppe, com a voz apreensiva.
Enquanto as pessoas tentavam levar sua vida normalmente, o lixo se acumulava mais e mais. A discussão estava presente nas escolas, nos bares, em todos os lugares, e pela primeira vez na vida, algumas pessoas começaram a perceber a importância dos “lixeiros”, como eram conhecidos, para a manutenção da saúde e do bem-estar de uma população.
Uma dessas pessoas era dona Rosinha, que adorava delatar os funcionários da COVAT para Seu Pedroca, mas que desta vez estava era com saudades daquelas figuras tão discretas e onipresentes, e ao mesmo tempo tão necessárias.
Nem o céu parecia satisfeito com aquela situação. As nuvens eram estranhas, o azul não era límpido. A impressão era de que a cidade havia retrocedido décadas, pois as pessoas conviviam lado a lado com o lixo, sem saber o que fazer com ele. Alguns órgãos e profissionais da saúde chamaram atenção para a responsabilidade das pessoas com a finalidade de seu próprio lixo, surgiram estatísticas, gráficos, e muita explicação e reflexão sobre a quantidade de lixo produzida pelo homem.
Longe dessas reflexões estavam Varre Tudo, Magali e Abelhão. Eles, acostumados a conviver com o lixo, tinham consciência de sua própria colaboração para o acúmulo de resíduos, mas naquele momento o que interessava era a greve, e bolar um jeito de convencer as autoridades de que a aceitação das solicitações dos funcionários da COVAT era para o bem de todos.

Nenhum comentário: