sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Episódio 31



Varre Tudo e Abelhão eram os mais decepcionados. Na saída da reunião, nenhum dos dois falava. Os funcionários esperavam alguma ação. Shirley queria consolar os amigos, mas também não sabia o que fazer. Foi Josias quem disse:
- Vamos até o escritório. Nós temos que fazer estes caras perceberem que, ou eles negociam, ou a cidade vai ficar infestada de lixo. Eu sinto muito em ver minha cidade assim! Mas a gente não pode voltar atrás sem uma solução.
- Tem razão! - reanimou-se Abelhão – Lá, a gente planeja algo para amanhã!
Varre Tudo continuava calado. Os funcionários decidiram que iriam caminhando até a COVAT. O grande grupo chamava a atenção da população, mesmo sem cartazes e sem fazer qualquer manifestação sonora. Alguns moradores observavam indignados, mas o silêncio daqueles trabalhadores parecia barrar qualquer um que quisesse reclamar ou até apoiar. Era uma marcha silenciosa, que deixava a população boquiaberta.
Quando chegaram na sala de reuniões, os funcionários acomodaram-se como puderam, já que o local era pequeno. Varre Tudo e Abelhão ficaram de pé diante dos colegas. Varre Tudo soltou os ombros num suspiro.
- Eu tive uma idéia. Uma vez, na escola, nós fizemos um teatro sobre os insetos. Tem fantasias de mosca e outras de barata. Eu tenho algumas delas na minha casa. Posso conseguir mais! - dizia Varre Tudo empolgado - Amanhã, vamos voltar aqui vestindo essas roupas. Se o Vargas não concordar com nossas reivindicações, vamos para a praça e vamos deixar a população ciente da importância do nosso trabalho!
- Boa idéia! - gritou Abelhão.
Eles decidiram como cada um iria vestido. Algumas mulheres, que sabiam costurar, produziriam fantasias de ratos e bactérias. A reunião terminou quando o encontro ficou marcado para a quarta-feira, às 6 horas da manhã, na COVAT. Eles decidiram que iriam cedo, ficariam lá durante uma hora e, se, nada fosse resolvido, iriam para o centro da cidade e pegariam a movimentação de quem estivesse saindo para o trabalho.
Ratos, baratas, moscas, pragas, bactérias... Os bichos mais terríveis fantasiavam mais da metade dos protestantes, quando chegaram à empresa, na manhã do dia seguinte. Seu Pedroca viu a cena de sua janela e logo foi para fora.
- Chame o Vargas! Nós queremos falar com ele! - ordenou Varre Tudo.
- Mas... Mas... - Seu Pedroca baixou a cabeça – Vargas foi para a capital hoje...
- Então vamos para a praça – gritou Abelhão erguendo o braço direito e voltando-se para os colegas.
Todos gritavam ao mesmo tempo:
- Se não houver uma solução!
A cidade vai virar lixão!
Assim que a COVAT acordar,
A cidade nós vamos limpar!
Seu Pedroca não sabia se impedia o grupo, ou não. Mas ele estava sozinho e ninguém ia ajudá-lo. O grupo seguia.
No centro da Praça Pio X, Varre Tudo subiu em um banco. Abelhão acompanhou o amigo. Varre Tudo era uma barata e Abelhão um rato gordo. As pessoas que passavam pela praça achavam graça nas fantasias e se aproximavam pensando que algum evento infantil estava acontecendo. A maioria ouvia o que os varredores diziam e ficava por aí. Outras poucas pessoas ignoravam.
- Nós precisamos do apoio da comunidade! Nós não queremos que a cidade fique cheia de insetos e muito menos de lixo! Queremos que vocês compreendam que a cidade produz uma quantidade enorme de lixo e que o nosso trabalho é muito importante para que ele tenha a destinação correta! - explicava Varre Tudo - Nós estamos cansados! Queremos o apoio de vocês! Quem puder se manifestar de alguma forma, sempre ajuda! Entrem em contato com a COVAT e reivindiquem! Assim que eles atenderem nosso pedido, prometemos que esta cidade vai voltar a ficar limpa e ser o exemplo que sempre foi.
Um homem que passava, ouviu o protesto, mas não concordou com o que estava sendo dito e se manifestou.
- Vocês é que são os responsáveis por essa bagunça que a cidade está se tornando!? Não têm vergonha? Isso é politicagem! Vocês querem mesmo é aparecer! Deixem de fazer farra na praça central e vão recolher o lixo! - disse o homem jogando uma embalagem de sorvete no chão – Olha só! Vocês merecem mesmo um aumento! Mais trabalho para os garis! Mais trabalho para os garis! – gritava satirizando.
Abelhão não suportou, ficou muito nervoso.
- Tomara que o senhor fique bem doente! Mais trabalho para os médicos! Mais trabalho para os médicos! - retrucava Abelhão.
Varre Tudo tentava acalmar o amigo. O homem estava indo embora e Abelhão gritava a frase de José Luthzenberger:
- Na hora, digo o que penso, boto para fora. Uso a emoção. Se alguma coisa me excita, falo excitado. Se me agridem, passo a agredir – acalmou-se e finalizou - Mas não sinto raiva ou ressentimento.
Varre Tudo está empolgado. Ele pára um pouco e lembra de tudo o que passou nos últimos dias. Ele lembra das falcatruas de Juseppe e não compreende como Jaciara, uma menina tão sincera e cheia de boas intenções, pode ser tão próxima de um cara mau caráter como ele. Outro dito que sua mãe repetia lhe vem a memória: “A vida é muito curta para ser pequena”. Assim, ele decide que a partir desse dia consertaria tudo que estivesse errado. E ia começar pela gráfica clandestina de Juseppe.
Um clima constrangedor pairou na praça depois da discussão. Eles decidiram encerrar o protesto. Antes de ir embora, Varre Tudo revelou para os colegas o que acontecia nos fundos da Gráfica Papagaio. Contou a todos que tinha um plano e que precisava da ajuda deles. Os funcionários aceitaram.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Obrigado pelo carinho e falas lá na feira.
Valeuuuuuuuuuuuuu!
A gente vai conseguir editar!!!
Beijão a todas!
Paulo