sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Episódio 26


Junior ouvia um murmúrio e não compreendia nada. Não enxergava nada, via apenas a escuridão. Tinha a sensação de que seu corpo flutuava. Não conseguia mover-se. Abriu os olhos lentamente. A visão fez um degradê. Do preto para o cinza. Do cinza para uma cena nublada. Podia reconhecer a sala branca de um hospital e muita gente ao seu redor, explicando as conversas. Junior consegue erguer a cabeça e lá estão seus amigos. Abelhão, Verre Tudo, Shirley, Josias, Magali e até dona Arzelina.
- Mal saí do hospital, Junior, já tive que voltar! - brincou Dona Arzelina.
Sob o lençol, deitado na cama do hospital, Junior não conseguia lembrar-se do acidente, não enxergava, nem sentia o seu braço, e perguntou.
- O que é que eu tô fazendo aqui, pessoal?
O amigo Varre Tudo deu um sorriso leve, não sabia como contar o amigo.
- Você teve um ferimento muito grave...
Nessa hora, ouvem uma discussão que vem do corredor do hospital. Algumas mulheres gritam. Varre Tudo olha para os amigos com uma expressão indagadora.
- Nossa! Hospital é local de silêncio! O que é isso?
Shirley levanta, abre a porta da sala para ver o que está acontecendo e ouve:
- Como assim, teu namorado!? Ele veio lá na minha casa ontem!
Shirley compreendeu. Junior não tinha apenas fama de namorador e, agora, todas as suas paqueras se encontravam. Eram quatro. A varredora resolve chamar a atenção:
- Meninas! Vocês estão num hospital! Silêncio, se não, vão mandar todos nós embora. O Junior tá mal! Respeito! E como deixaram subir tanta gente assim num quarto só.
- A gente pediu a chave do quarto errado, sem querer – disse rindo uma delas.
Shirley estava revoltada. Não acreditava que as meninas estavam rindo e pensando tanta baboseira, enquanto seu amigo estava com um sério problema.
- Façam o favor de descer! Depois que alguém sair daqui vocês sobem! Uma por vez. Se quiserem brigar, problema de vocês!
As quatro fizeram cara feia para Shirley, mas se direcionaram até o elevador.
Os amigos, dentro da sala, estavam em silêncio tentando compreender o que acontecia, quando Shirley entrou.
- Xi! Me dei mal! – disse Junior.
Varre Tudo ia falar para o amigo o que havia acontecido quando uma enfermeira chegou.
- Pessoal, o Junior precisa descansar. Que barulho é esse?
- Não era aqui não – explicou Shirley – eram umas garotas malucas que estavam no corredor.
A enfermeira voltou-se para Junior:
- Como está, rapaz?
- Não sinto nada – disse Junior.
- Você lembra do acidente?
- Acidente? Mas... Droga! – reclamou o rapaz lembrando do que acontecera – como está minha mão?
- Fique calmo! Você ainda está sob o efeito da anestesia. Mas, tivemos que amputar a sua mão, sinto muito. Não tínhamos o que fazer.
- Mas e agora como vou trabalhar!? – Pediu Junior num choro desesperado.
- Por favor, não se preocupe com isso agora. Você precisa descansar e manter-se calmo. Tome isso – indicou a enfermeira que trazia uma cápsula de remédio – assim você consegue dormir até que se recupere.
Junior tomou o comprimido e alguns minutos depois estava dormindo. Os amigos estavam indignados. Saíram da sala quietos e tristes.
Fora do hospital encontraram as “namoradas” do rapaz conversando passivamente. Shirley pediu:
- Vocês vão subir agora?
- Não. Decidimos que nenhuma de nós vai ir ainda atrás dele – esclareceu uma delas.
Shirley não ligou muito para o que a menina disse, pois estava preocupada com Junior e voltou a falar com os colegas.
- A gente precisa fazer alguma coisa. Não podemos deixar nosso amigo nessa situação. Que tristeza, gente! – disse Shirley suspirando.
- Pois é... – falou Varre Tudo – eu estou pensando que a gente pode ir até o escritório da COVAT e falar com alguém.
- Bah! O Junior foi lá hoje! Por que ele tinha que pedir pra trabalhar na coleta!? - reclamou Abelhão - Isso não precisava ter acontecido com ele.
- Não sei como colocam alguém trabalhar na coleta, sem nenhuma instrução! – refletia Dona Arzelina – O rapaz não tinha experiência. Ele devia ter ficado um tempo em treinamento. Isso é coisa muito séria. Irresponsabilidade de quem deixou ele trabalhar na coleta!

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