quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Episódio 35


Enquanto Abelhão, Shirley e Josias tentavam reanimar o amigo Varre Tudo, a quadrilha, formada por Catarina, Maurício, Capitão do Mato e Juseppe, embarcava nos carros da polícia. Todos seriam levados à delegacia, onde ficariam presos até que o caso do tráfico das aves, do incêndio dos contêineres e do seqüestro e da tentativa de homicídio de Jéferson fosse investigado e solucionado. Assim que Varre Tudo se recompôs do choque, seguiu com os amigos para o hospital Santa Lúcia, para onde a ambulância havia levado seu primo Jéferson. No caminho, o grupo de varredores, que seguia no mesmo carro, conversava sobre os últimos acontecimentos:
– Nossa, Varre Tudo! Quando teu primo entrou na sala de reuniões da prefeitura daquele jeito, todo machucado e queimado, eu levei o maior susto da minha vida! – disse Abelhão ao colega.
– Nem me fala, Abelhão! Tô muito preocupado com o Jéferson. E pensar que meu primo poderia ter morrido nas mãos daqueles desgraçados. Foi muita sorte ele ter conseguido se salvar. Se Deus quiser, ele ficará bom logo! – exclamou Varre Tudo.
– E quem diria que o Capitão do Mato estaria envolvido nessa história toda. Essa foi uma grande surpresa. – afirmou Josias. – Ele sempre foi rabugento e mal-educado com a gente, mas nunca imaginei que fosse capaz de participar uma coisa dessas. – completou o varredor.
­– É verdade, Josias! Agora começo a entender tudo que anda me acontecendo nas últimas semanas. Encontrar o Capitão do Mato, o Juseppe e mais o assaltante que me roubou a carteira no mesmo bando de criminosos explica muita coisa. Nem acreditei no que estava vendo quando reconheci os três lá na chácara. Foi uma grande surpresa. – disse Varre Tudo.
– Bom, pelo menos eles não vão mais incomodar a gente a partir de agora. E espero que eles recebam a condenação que merecem! – disse Shirley.
Varre Tudo e os colegas passaram poucos minutos no hospital. Somente queriam ter certeza de que Jéferson havia chegado bem e que se recuperaria dos ferimentos. Não podiam demorar, pois precisavam dar continuidade à reunião que decidiria o desfecho da greve. Por isso, Varre Tudo conversou rapidamente com o médico responsável por Jéferson.
– Seu primo não corre risco de vida, mas precisará permanecer no hospital por alguns dias para tratar as queimaduras que sofreu. – explicou o médico.
Varre Tudo nem chegou a entrar na sala onde o primo estava. Apenas observou-o através do vidro. Jéferson estava dormindo, e Varre Tudo achou melhor deixá-lo descansar. Em seguida, rumaram em direção à prefeitura. Um assunto muito importante ainda precisava ser resolvido.
Ao chegarem à sala de reuniões, foram recepcionados e amparados pelo prefeito Mostarda Moura, por Seu Pedroca e pelo presidente da COVAT, Manuel Vargas. Os varredores estranharam a solidariedade e a atenção que receberam. Assim que todos se acomodaram e que Varre Tudo contou às autoridades o que havia ocorrido com seu primo, puderam retomar a reunião.
– Bom, senhores. Estamos aqui reunidos com vocês para entrar em um acordo com os funcionários da COVAT e encerrar essa greve, pelo bem da nossa cidade. – disse o prefeito.
– Ih...já ouvi essa história antes... – cochichou Abelhão no ouvido de Varre Tudo, descrente de que a reunião lhes traria benefícios.
– Estamos dispostos a atender a todas as suas exigências, entretanto, uma delas poderá apenas ser parcialmente atendida. – explicou o prefeito.
– E qual das nossas reivindicações será parcialmente atendida, senhor prefeito? – perguntou Varre Tudo.
– É a questão que envolve o aumento dos salários. – respondeu o prefeito. – Não será possível conceder um aumento de 15%. O máximo que podemos oferecer é um reajuste de 9,5% no valor real dos salários de todos os funcionários da COVAT.
Varre Tudo e Abelhão entreolharam-se por alguns segundos. Varre Tudo pensou que a proposta era justa, visto que todas as exigências seriam acatadas, o que garantiria aos trabalhadores melhores condições de trabalho. O aumento do salário, apesar de não atingir o percentual desejado, já faria a diferença na renda das famílias que tiravam o sustento do lixo. A decisão estava tomada. Abelhão acenou para Varre Tudo positivamente com a cabeça, autorizando o amigo a aceitar a proposta.
– Tudo bem! Aceitamos os 9,5% de aumento nos salários se tivermos a garantia de que as demais reivindicações serão atendidas prontamente. – declarou Varre Tudo às autoridades.
– Ótimo, senhores! Eu, como prefeito, lhes dou a palavra. As exigências serão atendidas imediatamente. – afirmou o prefeito, satisfeito com o desfecho da reunião.
– E também há outra coisa que precisa acontecer imediatamente. – disse Seu Pedroca aos funcionários. ­– Precisamos voltar ao trabalho agora mesmo! A cidade precisa do empenho de todos os funcionários da COVAT. Temos que reunir esforços para deixar Nova Rita Santa limpa e organizada novamente!
– Com certeza, Seu Pedroca! Pode contar com nós! Vamos fazer tudo o que for preciso pra colocar a cidade em ordem! – empolgou-se Varre Tudo.
– E quantos dias vocês acham que serão necessários para varrer todas as ruas, recolher todo o lixo e deixar a cidade limpa? – indagou o presidente, Manuel Vargas.
– Bom, precisamos estabelecer uma meta! – afirmou Varre Tudo. Se organizarmos um mutirão pela limpeza da cidade, mobilizando todos os funcionários da COVAT, sejam eles varredores, coletores ou capinadores, acredito que em cinco dias de trabalho seremos capazes de deixar Nova Rita Santa brilhando!
– Muito bem! Em cinco dias Nova Rita Santa voltará a ser a cidade exemplo do Estado em questão de limpeza, coleta de resíduos e preservação ambiental! Está na hora de retomar o serviço! Mãos à obra, pessoal! – exclamou Seu Pedroca.
Varre Tudo e Abelhão saíram da sala de reuniões. Estavam satisfeitos com o resultado. Agora se sentiam mais valorizados e respeitados não só pela empresa para a qual trabalhavam, mas também por toda a população de Nova Rita Santa. A importância de seu trabalho havia sido reconhecida. Estavam muito mais motivados para exercer suas funções e, principalmente, para retomar suas atividades depois dos benefícios conquistados com a greve. Ao chegarem ao lado de fora da prefeitura, os dois varredores comunicaram aos demais trabalhadores da COVAT que lá estavam reunidos o resultado positivo da reunião. Todos se abraçaram e comemoraram a conquista. Em meio à algazarra, Varre Tudo, como líder dos grevistas, pediu que todos prestassem atenção ao que tinha para dizer.
– Pessoal! Temos uma missão muito importante neste momento. Nossas exigências foram atendidas, mas diante da situação da cidade não temos tempo para ficar aqui comemorando. Vamos celebrar nossa vitória ajudando na limpeza de Nova Rita Santa. Temos cinco dias para deixar tudo impecável! Por isso, precisamos retomar o trabalho imediatamente! – determinou Varre Tudo, cuja fala foi seguida de aplausos calorosos.
A partir do anúncio de Varre Tudo, todos os trabalhadores dirigiram-se à sede da COVAT com o intuito de se prepararem para o mutirão de limpeza que movimentaria a cidade nos próximos cinco dias. Os coletores embarcaram nos caminhões da coleta de lixo orgânico e seletivo e os varredores apanharam seus carrinhos, vassouras e pazinhas. Os capinadores, ao invés de exercer sua função rotineira, foram servir de reforço na varrição das ruas centrais, visto que a sujeira nesses locais era muita para que os apenas 123 varredores conseguissem dar conta de todo o trabalho. Além disso, a população foi incentivada a colaborar com o mutirão de limpeza. Quem se disponibilizasse, poderia varrer a calçada em frente à própria residência. Se cada um fizesse a sua parte, a meta de reorganizar a cidade em cinco dias seria facilmente cumprida. Era preciso, então, a colaboração e participação de todos os habitantes. Só assim Nova Rita Santa voltaria a ser uma cidade bela e agradável para se viver.

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